William Somerset Maugham escreveu “The Three Fat Women of Antibes”, um conto formidável a respeito de três mulheres abastadas e gordas que se reúnem em Antibes, um resort mediterrâneo, onde se propõem a incrível tarefa de emagrecer.
Submetidas a um regime de sopa sem sabor, chá sem açúcar e torradas secas, sem manteiga ou geleia, penam motivando-se mutuamente.
Eis que se junta a elas uma quarta personagem, magérrima, cujo regime alimentar incluía generosas fatias de tortas doces, com bolas de sorvete, recobertas de creme chantilly e xarope de chocolate.
E ela se mantinha magra e sexy!
As observações iniciais bem-humoradas, progressivamente evoluem para comentários mais ácidos e rancorosos das 3 personagens até que culminam num ódio profundo contra a mais magra.
Qual o desfecho? Leia o conto; é genial!
O gestor abrasivo é a mesma coisa.
Apresenta comportamentos que inicialmente são tomados como facetas burlescas, cujo efeito é o mesmo que passar uma lixa número dois sobre a pele; uma pequena raspadinha ardida, mas cuja repetição vai tornando insuportável a convivência, como se às vezes a raspadinha sangrasse.
A habitualidade do comportamento gera o rancor e as pessoas evitam trazer para o gestor os assuntos que possam originar a “raspadinha com lixa número dois”.
O prejuízo para a organização é evidente.
A comunicação não flui espontaneamente, assuntos são postergados, há a perda da naturalidade, pessoas comentam pelas costas as excentricidades do gestor e a empresa sofre com perdas de oportunidade e queda na eficácia.
Muitos gestores bem-sucedidos costumam atribuir a si mesmos as razões dos seus sucessos e às circunstâncias ou aos outros os seus malogros.
Além disso, em matéria de comportamento, eles se avaliam pelas suas intenções e não pelas suas ações.
A maioria das pessoas “irritantes” não tem a mais remota noção de que incomodam os outros.
Se porventura alguém tiver a ousadia de mencionar os comportamentos abrasivos, irá defrontar-se com uma reação vigorosa do gestor, que rejeitará o assunto, justificando-o com base nas suas intenções, e apontará falhas ainda mais graves ainda no próprio interlocutor que levantou o assunto.
No seu livro “What Got You Here Won’t Get You There”, Marshall Goldsmith descreve os comportamentos inadequados que mais comumente gestores bem-sucedidos apresentam.
Dentre eles destaco os que melhor caracterizam os tais “Gestores Abrasivos”.
- Demonstrar incoerência, não praticando o que prega, prometendo mais do que pode cumprir.
- Agir com falta de humildade, com superioridade ou arrogância, apresentando dificuldades para lidar com críticas.
- Demonstrar ansiedade, agindo com impulsividade, afobação, dispersão, podendo começar várias frentes e terminar poucas, com dificuldades para manter o foco.
- Querer ganhar sempre, estar certo sempre, a qualquer custo, em todas as situações, culpando qualquer pessoa menos ele(a) mesmo(a), não admitindo que está errado(a), revelando orgulho.
- Revelar o desejo de mostrar às pessoas o quanto é esperto(a), se autopromovendo ostensivamente, deixando de compartilhar informações para manter alguma vantagem sobre os outros, não compartilhando méritos, se apropriando de créditos não merecidos.
- Apresentar dificuldade em delegar, revelar postura centralizadora, tentar controlar tudo e todos, praticar micro gerenciamento, atuar no operacional, revelando dificuldade para confiar nos outros.
- Demonstrar dificuldades para aceitar que as demais pessoas podem ser, agir e pensar de modo diferente, tentando lhes impor os seus padrões.
- Tratar as pessoas com aspereza, agressividade, sarcasmo, fazendo comentários destrutivos.
- Demonstrar a dificuldade ou mesmo a incapacidade de motivar, elogiar, reconhecer esforços, recompensar e expressar gratidão.
- Não saber escutar, interromper as pessoas, não deixá-las concluir as frases ou concluir por elas.
Em dezembro de 2014 fizemos uma pesquisa Nacional e identificamos que, em maior ou menor grau, gestores bem sucedidos manifestavam comportamentos que desagradavam as pessoas.
Em pouco mais de 60% das empresas pesquisadas haviam um ou mais gestores que apresentavam frequentemente comportamentos muito abrasivos, a ponto de incomodar fortemente aos demais.
No Brasil, a metodologia desenvolvida por Marshall Goldsmith é praticada por BEST in CLASS.