Nossa tendência é considerar que bullying é coisa que ocorre na escola, mas não com adultos.
Das milhares de pessoas que entrevistei ao longo de minha carreira como head hunter eu sempre fiz a mesma pergunta: “Porque você que mudar de emprego?” ou “Porque você saiu do último emprego?”
Os homens costumam dar respostas elaboradas, falando de carreira, futuro, oportunidade, estratégia etc.
As mulheres tendem a alegar dificuldades no trabalho, seja em razão de falta de reconhecimento, problemas de relacionamento, chefias abusivas etc.
Ou seja, homens costumam criar enredos racionais (geralmente falsos) ao passo que mulheres expressam razões emocionais (geralmente honestas).
O fato é que todo rompimento de uma relação de trabalho sempre começa com o desligamento emocional.
O desligamento emocional leva à apatia, que se caracteriza por despersonalização (insensibilidade ou atitude impessoal) e cinismo (indiferença ou atitude distante em relação ao trabalho do outro).
O Bullying
O bullying é uma das grandes causas do desligamento emocional e se manifesta de forma cruel e sutil, a ponto de prejudicar a sua capacidade de trabalhar e de produzir resultados, através de fatos como:
- Entrar na sala ou aproximar-se do grupo e a conversa parar
- Saber que criaram um apelido para um dos seus atributos físicos (conseguem adivinhar exatamente aquilo que mais a incomoda)
- Receber um título que cola, como ser chamada de “doutora”, palavra essa pronunciada com um certo tom de sarcasmo. Com o tempo, seu nome desaparece e você se torna a “dou-to-ra”.
- Deram a você um apelido oculto que coloca em dúvida a sua feminilidade.
- Insinuar que sua promoção foi obtida através de favores
- Ser colocada de fora do circuito dos convites para atividades sociais
- Flagrar pessoas imitando seus gestos ou mimetizando-a
- Receber mensagens anônimas ofensivas ou ridicularizando-a
- Encontrar coisas que têm significado explícito ou sutil entre seus pertences.
- Coisas que desaparecem de sua mesa ou arquivo
Outra surpresa é constatar que não só os homens praticam esse bullying contra você, mas também as mulheres!
Coisa de Adolescente?
Nesse momento, a mulher se sente muito insegura e tem dificuldades em saber como reagir.
Pensam: bullying é coisa de adolescente; uma pessoa adulta não pode se sentir afetada pois isso é sinal de fragilidade!
Algumas reações usuais são:
- Sentir-se deprimida;
- Sofrer em silêncio;
- Sorrir da situação, negando reconhecer que está se sentindo afetada;
- Passar a tratar a pessoa com frieza distante, esperando que a mesma perceba e lhe pergunte o que está acontecendo;
- Pedir que parem, mas de uma forma tão passiva que os outros não a levam a sério;
- Engolir as humilhações até que um fato, que todos consideram de pequena importância, leve-a a uma explosão de lágrimas.
- Recorrer a compensações como comer coisas calóricas ou ingerir bebidas alcoólicas.
As Dicas
Às vezes vem a vontade de agredir, de atirar algo (um grampeador) na pessoa ou de derramar o café no colo dela.
Espera-se, contudo, que você possa apresentar uma atitude mais amadurecida para lidar com o problema.
Aqui vão algumas sugestões:
Acalme-se, controle-se, respire fundo e encare a situação com clareza.
Você não deve e não pode deixar a situação fluir sem tomar alguma atitude.
Contudo, estabeleça uma estratégia.
O assunto não pode ser ignorado e deve ser discutido com quem mais a incomoda.
Mas, quando e onde? Não será em público, durante uma reunião ou no coffe break.
Esclareça
Diga o que aconteceu e que a está incomodando e o que você espera que ocorra em decorrência dessa conversa.
Seja franca. Admita que você já sabe o que ocorre pelas suas costas.
Não discuta os motivos pois isso não é produtivo
Admita que algo que você fez, ou disse, pode ter originado o conflito.
Mas deixe claro que você quer ter o direito de ser tratada com respeito e dignidade pela outra pessoa, assim como você o fará com ela.
Acomode
Você não tem como congelar suas relações com um (a) colega de trabalho, por mais que assim o deseje.
Vocês precisam desenvolver uma forma de convivência civilizada.
Não tenha a ilusão de que a pessoa irá concordar com você e assumir a culpa pela situação.
Esteja preparada para que a mesma se lance num contra-ataque e tente jogar a responsabilidade nas suas costas.
Isso reforça a importância de ter escolhido adequadamente o quando e o onde conduzir a conversa.
É um momento difícil, mas você deve se controlar e não entrar numa discussão acalorada.
Procure verbalizar, da forma mais calma e objetiva possível, ou como você se sente.
Esta é a única forma de você assumir o controle da situação e de reforçar seu profissionalismo e objetividade.
É a única forma de ser levada a sério.
Caso a pessoa peça desculpas, nunca diga: “Tudo bem, não se preocupe”. Fale com calma e objetividade “Eu aceito suas desculpas” (nada mais).
Não tenho a certeza de que as coisas vão se resolver.
Mas, o mais importante, é que você terá assumido o controle de sua reputação profissional, criando a imagem de ser competente, séria e merecedora de respeito.